sexta-feira, dezembro 05, 2008

Porque dizem palavrões?

Asneiras, parvoíces, disparates, tolices...Deixam-nos envergonhados em qualquer lado.


Quando o seu filho diz, de repente, um palavrão, você fica atónito. A juntar à vergonha, interroga-se “mas onde é que ele aprendeu esta palavra?”. “Porque será que ele usou esta expressão?”. “Será que está a ser mal-educado?”


As crianças...As crianças são autênticos “radares”. Captam não só todos os nossos sentimentos, mas também tudo o que dizemos, por mais distraídas que pareçam. Inclusive alguns pais referem que, “ele estava a brincar, tão absorto, com os carrinhos, que pensei que não estivesse a ouvir”.Mas, estava e “apanhou” exactamente aquilo que não queriam que ouvisse. Porque será?


Na realidade, embora o seu filho possa estar completamente absorto a brincar, normalmente presta atenção ao que você diz e se for um palavrão, acompanhado de toda a carga emotiva que o reforça, mais facilmente o decora.As crianças prestam atenção a todos os tons enfáticos, já que é desta forma que conseguem perceber o estado de espírito dos seus familiares. É assim que o seu filho percebe se você gostou ou não de uma acção que ele realizou: uma asneira é seguida de um tom mais ríspido, enquanto que uma boa acção de um tom mais “doce”.Novo vocabulárioA partir dos três/quatro anos, e devido ao seu desenvolvimento mental, a criança começa a perceber que, cada palavra pode ter um diferente significado, consoante o momento e a forma como é dita. E quem lhe ensina isso? Você! Senão vejamos: ao mudar-lhe a fralda, acompanha a palavra “cocó” com expressões de desagrado.Então, ele começa a perceber que as palavras podem ter uma outra forma de ser entendidas. O mesmo se passa se ele fez alguma coisa bem: você faz-lhe um elogio e mostra um “grande” sorriso, revelador de toda a sua felicidade.Entretanto, a linguagem sofre uma grande alteração, sendo que a criança começa a adquirir novas palavras e a sua capacidade mental começa a estabelecer novos sentidos para cada vocábulo que você utiliza quando lhe fala. Quando isso não acontece, e mesmo que não saiba qual o significado da palavra, você demonstra-lhe “pelas suas expressões ” que esta ou aquela palavra “não é boa”.Chamar a atenção.


As crianças utilizam as palavras que consideram causarem mais perturbação (experimentando) e as que mais ouvem, por exemplo, na escolinha. As principais razões podem ser:

- Demonstrar o seu estado de espírito (se está zangado, aborrecido, etc.)

- Imitar os pais em determinada situação

- Observar a reacção das pessoas que estão à sua volta~

- Demonstrar a sua própria independência em relação aos demais

- Chamar a atenção (especialmente dos pais).


Como agir?A forma como reagir a cada uma destas asneiras, irá condicionar a forma e as vezes que ele a repetirá. Assim, a sua reacção deverá ter em conta a palavra “em si” (o seu grau de gravidade) e as vezes que a repete (uma vez, duas, quatro...).Muito embora as crianças sejam todas diferentes, tal como os “palavrões” que empregam, existem alguns conselhos que pode seguir:


- Se a palavra é inofensiva, o melhor será ignorá-la e, principalmente, não se rir, não contar a situação a outras pessoas na presença da criança e não se mostrar afectada pelo vocábulo empregado. Se o fizer a criança irá assumir que conseguiu o efeito que queria.

- Se a palavra for ofensiva, deve chamar a criança à atenção, de modo a que entenda que ninguém vai reagir e que apenas dirão que ele não está a ser um menino bonito. Lembre-se que o seu filho está a testar a eficácia do termo, pelo que se lhe bater ou se se mostrar demasiado chocada, pode estar a ter uma atitude contrária ao seu objectivo.


Algumas soluções...A melhor forma de lidar com uma criança consiste em oferecer-lhe alternativas que lhe permitam expressar, de outra forma, a sua irritação, aborrecimento ou mesmo a sua raiva. Experimente fazer com ele um jogo de palavras: a cada asneira que ele disser, proponha-lhe utilizar outras palavras, que consigam exprimir o que está a sentir naquele momento.Recorde que, embora existam palavras que consideremos “asneiras”, muitas vezes são tão suaves que mais vale ignorá-las.A lei da compensaçãoSe você castiga o seu filho, quando ele diz asneiras ou palavrões, não o deixando jogar na sua consola ou proibindo que veja na televisão o seu programa preferido, aproveite para o compensar sempre que ele se comporte bem. Utilize o mesmo esquema e deixe-o ver mais uns minutos do seu programa preferido ou dê-lhe um tempinho suplementar para jogar na consola.Quem dá o exemplo são os pais e, por muito que esteja zangada ou “à beira de um ataque de nervos” – algo que uma criança pode conseguir facilmente – nunca utilize insultos para recriminar a criança. E se o comportamento se mantém, e inclusive a criança tem comportamentos agressivos para com os seus pares, não hesite em consultar um especialista.A melhor forma de educar consiste em demonstra-lhe que embora se tenha portado mal, ele continua a merecer todo o seu amor e carinho e que você jamais lhe faltará.



Estrabismo

Para manter uma visão única, é necessária uma coordenação fina dos movimentos oculares de ambos os olhos. Como tal, a qualquer situação patológica responsável por um desvio do normal e perfeito alinhamento ocular dá-se o nome de estrabismo ou tropia.O estrabismo é, portanto, a perda do paralelismo dos olhos que ocorre quando os músculos do olho que ajudam a olhar numa direcção são afectados.
Os dois olhos não olham para o mesmo sítio, um deles olha para o objecto pretendido, o outro desvia-se numa outra direcção. Este desvio pode resultar num grande defeito estético, ou, pelo contrário, pode resultar num defeito que passa facilmente despercebido. Não obstante, qualquer um deles causará os mesmos problemas de visão ao portador da deficiência.Tipos Estes desvios podem dar-se a vários níveis. Se for horizontalmente e para dentro denomina-se estrabismo convergente ou enotropia; se o desvio for horizontal mas para fora existe estrabismo divergente ou exotropia.
Se houver um desvio vertical, quer para cima, quer para baixo, dá-se o nome de estrabismo vertical.O estrabismo convergente é o tipo mais comum da criança, apesar de se desconhecer a sua causa. Mas uma das hipóteses mais plausíveis poderá ser a hipermetropia. O estrabismo divergente tende a ocorrer em crianças mais velhas e é frequentemente intermitente.De acordo com a causa subjacente, o estrabismo também pode ser classificado como paralítico (quando resulta da paralisia dos músculos extra-oculares devido a lesão mecânica ou a lesão dos nervos cranianos que inervam estes músculos - o III, IV e o VI pares cranianos -; ou não paralítico (que se deve a doença hereditária ou a um erro de refracção no olho). Saliente-se que o estrabismo não paralítico (ou concomitante) se inicia geralmente na infância.SintomasEsteja atento(a) caso se aperceba de algum destes sintomas nas crianças:- desvio de um olho, perda do paralelismo dos olhos;- diminuição da acuidade visual de um olho em relação ao outro (olho vago ou ambliopia);- proporções anormais da cabeça, desvios, inclinações e torcicolos;- mau cálculo das distâncias e relevos, perda de visão binocular.A diploplia (visão dupla) ocorre quando o estrabismo tem início na idade adulta. Diante de qualquer dúvida ou apreciação de qualquer destes sintomas, deve consultar-se precocemente o oftalmologista. A precocidade do tratamento é, aliás, uma das melhores formas de evitar consequências mais graves.CausasSão várias as causas desta patologia, algumas já conhecidas.Sabe-se que na origem do estrabismo se encontra uma alteração dos músculos do olho em conjunto com uma má visão. Um olho torce-se porque vê mal e porque vê mal torce-se. Um factor de extrema relevância é o factor hereditário, já que é reconhecida a predisposição hereditária para o estrabismo.A criança que já nasce estrábica tem como causas do seu problema factores como a hereditariedade, o sofrimento fetal, infecções, tumores, traumatismos ou até factores emocionais. Graus diferentes entre os olhos, baixa visão também podem ser outros dos motivos que promovem o estrabismo.Apesar de ser possível a criança até aos seis meses de idade fazer movimentos descoordenados com os olhos, isso não significa automaticamente que sofra de estrabismo. Porém, depois dessa idade, se a criança apresentar sintomas característicos de estrabismo deverá ser levada imediatamente a um oftalmologista.
De referir que quando o estrabismo aparece na idade adulta, poderá indiciar a existência de uma doença grave no cérebro ou no organismo. Entre as causas mais frequentes desta situação encontram-se a hemorragia cerebral, traumatismos, tumores, doenças musculares, problemas de tiróide, pressão alta e paralisia dos músculos dos olhos por causa da diabetes. É importante que o indivíduo que começar a ter visão dupla procure de imediato um oftalmologista para descobrir a causa e aplicar o tratamento adequado.
Tratamento- oftalmologista é o único técnico especializado para avaliar o caso na sua especificidade e indicar qual o melhor processo a seguir. Não obstante, o tratamento pode ser efectuado em três âmbitos:
• óptico – quando se utilizam lentes para corrigir erros de refracção;
• ortóptico – quando o olho saudável é coberto ou obstruído para promover a utilização do olho estrábico;
• cirúrgico – quando se procede à recessão do músculo recto, para auxiliar o alinhamento ocular.Saliente-se que este último tratamento só é utilizado quando o restante tratamento médico não é suficiente e os olhos permanecem desviados. O objectivo é pois fortalecer ou debilitar certos músculos do olho, de forma a obter uma boa visão e evitar que se torçam.
A cirurgia pode incidir sobre vários músculos de um olho ou dos dois olhos, e, por vezes, poderá efectuar-se sem recorrer a anestesia geral, por exemplo, com o uso de "toxinas botulínicas" (toxinas que produzem uma paralisa temporal dos músculos).Para além destas três intervenções é possível ainda realizar exercícios especiais e programas de treino visual para reforçar a visão binocular.PrevençãoPara despiste desta deficiência visual há que proceder à observação e ao acompanhamento precoce de todos os recém-nascidos. Esta necessidade deve-se ao facto de ser nos primeiros meses de vida de uma criança que a função visual e o seu desenvolvimento vão ser determinados.
Este acompanhamento precoce permitirá avaliar as causas associadas ao estrabismo, evitar ou tratar a ambliopia e investigar possíveis patologias oculares associadas (como cataratas, lesões inflamatórias na retina ou lesões tumorais), bem como patologias gerais, principalmente do sistema nervoso central.No caso de estrabismo diagnosticado na infância, a vigilância e o controlo médico devem ser garantidos até à adolescência, ainda que a situação estética seja normal.A própria criança poderá participar activamente no seu tratamento, apreendendo a ser rigorosa no cumprimento do mesmo, sobretudo durante a primeira época das oclusões oculares.

E quando o pai não está?...


Nem tudo na vida é perfeito. Infelizmente. Principalmente quando o pai, seja por motivo de separação da mãe ou por outros acontecimentos, não convive integralmente com o filho.


A representação da figura paterna é fundamental na formação, no desenvolvimento e construção moral, social, emocional e psicológica da criança. Mas os filhos de pais separados ou de mães "solteiras" não são mais problemáticos do que os filhos de pais casados. Algumas vezes, observamos na sociedade uma tendência em rotulá-los, que deve ser evitada.


"Os filhos necessitam em qualquer condição de apoio, de carinho, proteção, companhia, cuidados e limites. É fundamental o papel da família no desenvolvimento da auto-estima dos filhos, pois é nela que desenvolvemos os laços afetivos, influenciando questões relacionadas ao ajustamento e às mais variadas situações", explica a psicóloga Patrícia Camargo.


A figura paterna faz parte da estrutura emocional para nos tornarmos pessoas sadias e maduras. A criança que é criada sem referencial masculino pode tornar-se aversivo às ordens dadas por representantes femininos. Porém isso não quer dizer que crianças criadas somente pela mãe vão ter algum transtorno emocional.
Saiba que crescer numa família sem o pai, cada vez mais comuns nas sociedades modernas, pode ser bem saudável! Como? O pai é o representante dos limites, é o que vem quebrar a simbiose mãe-bebê. No entanto, "a figura do pai" pode ser representada por outras pessoas, mesmo do sexo feminino. Algumas mães conseguem definir limites com muito sucesso.


"O papel materno é um fator essencial nas situações de ausência do pai no desenvolvimento da criança, pois a influência do comportamento materno pode levar a surgir uma maior ou menor predisposição para os conflitos associados à falta do pai", completa a psicóloga.


Alguns cuidados - Para que a "supermãe" obtenha êxito na função também de pai, cabe a ela toda a responsabilidade pela formação infantil - sem estar se queixando do parceiro, evitando brigas na frente da criança, e não usar a criança para se vingar ou ficar falando mal do pai para a criança.
Mesmo assim, proporcione à criança a presença de uma figura masculina: um avô, um tio ou mesmo um amigo confiável, mesmo que o contato seja esporádico. O importante é que haja muito envolvimento afetivo, atenção, carinho e amor.
Como bem lembra Patrícia Camargo: "as ligações de emoção entre pai e filho são formadas nas relações de afeto e cuidado no dia-a-dia, e não com a parte biológica".


Sempre que possível, o pai ou figura paterna deve estar presente na vida dos filhos, acompanhando e participando de atividades cotidianas, fortalecendo assim uma ligação que, quer queiramos ou não, é para sempre.
O pai ocupa um lugar especial na evolução psicológica dos seus filhos, desde antes do seu nascimento. A mãe dever procurar por alguém que possa representar a figura paterna tão importante na vida da criança.


"Essa presença é muito importante para o bom desenvolvimento da criança. Tanto é que na ausência do pai biológico, cabe a mãe administrar a ausência do pai, de forma a não prejudicar sua imagem, tão importante para a formação do caráter da criança".


Bruno Thadeu


Agressividade na infância: até que ponto é normal?

Fragilidade e insegurança. Esses são os dois principais motivos que ocasionam comportamentos agressivos por parte das crianças, podendo resultar em ferimentos nela própria e em outras pessoas. Situações como o nascimento de um novo bebê na família, separação dos pais ou então a perda de algum parente próximo contribuem para a mudança repentina na maneira de agir do filho.
"As crianças são totalmente emocionais e pouco racionais. Por não saberem lidar com alguns sentimentos, podem expressá-las por meio de atos agressivos", explica a especialista em psicologia clínica para crianças e adolescentes, Keila Gonçalves.
Sabe-se, no entanto, que a agressividade não é um traço de personalidade. Se seu filho está agressivo, certamente ele está sendo influenciado pelo cotidiano familiar e, em menor escala, por fatores externos, como a televisão, amizades, entre outros.
Segundo Keila Gonçalves, os pais devem ficar preocupados quando as atitudes perturbadoras se tornam prolongadas. "Algumas vezes, as crianças apresentam uma agressividade não apenas transitória, mas permanente, ou seja, parecem estar sempre provocando situações de briga. Este é o momento de entrar em ação".
Observar muito bem cada atitude e manter o diálogo são os primeiros passos para descobrir a causa o problema. Muitas vezes, o pequeno da família pode estar vivendo situações de conflito, seja em casa ou na escola, que o faça desempenhar algum tipo de papel, agredindo e deixando-se agredir, como conseqüência desta dinâmica em que pode estar inserido.
O comportamento hostil geralmente se origina por inúmeras razões: dificuldade de relacionamento com outras crianças; algum tipo de abuso ou humilhação por parte dos adultos; pais que evitam dizer “não” quando necessário (podendo transformar em uma criança possessiva) ou excesso de cobrança.
Nesses casos, a criança precisa de ajuda, mais do que de punição. Torna-se urgente assisti-la, por meio de muita observação e diálogo, para que se possa interromper esse ciclo de violência. É recomendada a ajuda de um especialista, que orientará os pais sobre a maneira correta de proceder.
Outra medida importante é a relação de cumplicidade entre a família e a escola. Saber sobre o comportamento do seu filho fora de casa e informar a educadora sobre os problemas percebidos podem ser fundamentais. "Muitas vezes, há uma melhora sensível quando a criança percebe que seus pais enxergaram o problema", revela a psicóloga. Como se percebe, o afeto é o caminho mais tranqüilo e menos doloroso para arrancar a tensão de dentro do seu querido. Basta saber usá-lo.
Bruno Thadeu

http://guiadobebe.uol.com.br

segunda-feira, novembro 17, 2008

Lugar dos afectos

Venha percorrer o Caminho dos Afectos pelas Casas e Jardim das Emoções, com informações sobre os objectivos e elementos significativos do Lugar dos Afectos, proporcionando momentos de reflexão e diálogo.
Consulte aqui o nosso novo folheto informativo sobre o Lugar dos Afectos e fique a conhecer este espaço inovador, onde se pretende que "todos, em qualquer idade, possam descobrir um caminho para o coração de si próprios e dos outros".

http://lugardosafectos.blogspot.com/

quinta-feira, outubro 16, 2008

Plano Individualizado de Apoio à Família

Os objectivos deste curso são:
  • Compreender o racional das práticas centradas na família e reconhecer a importância do papel da família no desenvolvimento do Plano Individualizado de Apoio à Família.

  • Compreender o objectivo essencial do Plano Individualizado de Apoio à Família e distinguir entre o Plano Individualizado de Apoio à Família como processo e o Plano Individualizado de Apoio à Família como documento.

  • Discutir, seleccionar e integrar a informação necessária (obtida a partir de diversos instrumentos e metodologias) para o desenvolvimento de um Plano Individualizado de Apoio à Família compreensivo e verdadeiramente centrado na família.

  • Construir e registar o Plano Individualizado de Apoio à Família interligando adequadamente os seus componentes: necessidades, objectivos e estratégias de intervenção.

  • O curso é dirigido a: Profissionais a desempenharem actividades na área da Intervenção Precoce: Educadores, Psicólogos, Téc. Serviço Social, Enfermeiros, Médicos e Familiares de Crianças em Intervenção Precoce.

  • Local: Auditório do Instituto Português da Juventude de Coimbra Data: 17 e 18 de Outubro de 2008
  • Contactos:Associação Nacional de Intervenção PrecoceDepartamento de FormaçãoAv Dr Bissaya Barreto (Hospital Pediátrico - Pavilhão Azul) 3000-075 CoimbraTel: 239 483 288Fax: 239 481 309
  • e-mail: anip.sede@mail.telepac.ptsítio web: www.anip.net

quinta-feira, outubro 09, 2008

Síndrome do Bebé Sacudido

Histórico:
Embora já existissem relatos na Medicina, foi em 1972 que Caffey atribuiu casos de hematoma subdural em bebês e crianças ao movimento de chicote, na maioria dos casos por conseqüência de abuso. E em 1974 deu a denominação de “Síndrome do Bebê Sacudido” ao quadro (David, 1999), pelo movimento anterior, posterior e rotacional, no qual a cervical age como um fulcro (Lee et al, 1999).Ainda hoje, assim como a própria síndrome do chicote, a síndrome do bebê sacudido é fruto de discussões, pois há quem discorde que seja possível causar lesões intracranianas apenas com o sacudir de uma criança (David, 1999), podendo ser fruto de negligência na avaliação médica (Al-Bayati, 2004).

2. Conceito:
A síndrome do bebê sacudido (SBS) ocorre devido a movimentos de aceleração e desaceleração associados a forças de rotação, impostos a crianças de 0 a 5 anos, na maioria dos casos por abuso ou maus tratos, tendo como conseqüência a tríade que caracteriza a síndrome, que é composta por: encefalopatia, hemorragia retinal e subdural (Lancon et al, 1998; David, 1999; King et al, 2003; Harding et al, 2004), ainda que lesões cervicais (Harding et al, 2004), vasculares e edemas cerebrais possam ser observados (Isaac & Jenny, 2004).

3. Incidência:
Não é possível afirmar a incidência com clareza, pois muitos dos casos não são reportados e, em alguns, o caso de maus tratos não é evidente (King et al, 2003), e pelo fato de que em 30-40% dos casos, a criança apresenta lesão preexistente na cabeça (Reece, 2004). E soma-se a isso o fato de que 15-27% das crianças vítimas de abuso vão a óbito (King et al, 2003).

4. Etiologia:

Embora o termo “bebë sacudido” normalmente seja atribuído a violência sofrida pela criança, Caffey (apud David, 1999) afirmou que pode acontecer em outras situações, como brincadeiras normais da infância e, inclusive por barulho excessivo e exposição a vibrações, embora não existam estudos que comprovem essas teorias (David, 1999).

5. Etiologia:
Não existem relatos de que exista maior prevalência em determinado gênero, raça, ou em diferentes níveis sócio-econômicos (Lancon et al, 1998).

6. Mecanismo de Lesão:
A lesão pode acontecer por duas situações: Lesão por contato e Lesão sem contato (David, 1999).
Lesão por Contato: São aquelas em que a cabeça da criança se choca com algum objeto. Nesse caso, a criança pode apresentar além da hemorragia, lesões do parênquima e fraturas do crânio
Lesão sem Contato: Nesse caso, o mecanismo causador é o processo de aceleração e desaceleração sofrido pelo crânio. Podem ocorrer movimentos do cérebro em relação ao crânio e a dura-máter, rompimento de veias e lesão axonal difusa.
Em ambos os casos, a hemorragia está presente e é indicadora do abuso (Kivlin et al, 2004), ainda que não possa ser considerada um sinal patognomônico da SBS, pois outras situações clínicas também podem ser responsáveis por ela (Reece, 2004).

7. Fisiopatologia:
Segundo Minns & Busuttil (2004), a SBS pode ocorrer de três formas. São elas:
Encefalopatia Hiperaguda:
É ocasionada pelo verdadeiro movimento em chicote. Responde por cerca de 06% dos casos. É pouco vista pelos médicos, pois a criança pode morrer imediatamente ou em pouco tempo.Consiste em lesão axonal na junção craniocervical, nos tratos corticoespinhais e medula espinhal.Acredita-se que a lesão axonal difusa seja conseqüência de hipóxia/isquemia de determinadas regiões do cérebro (Shannon et al, 1999)

Encefalopatia Aguda:
É conhecida como a verdadeira síndrome do bebê sacudido. Ocorre em 53% dos casos.Caracteriza-se por perda de consciência, aumento da pressão intracraniana, apnéia, hipotonia, anemia, hematoma subdural bilateral e hemorragia retinal.

Danos Extracerebrais Crônicos:
Atinge 22% dos casos. Ocorre hemorragia subdural isolada que se torna crônica por durar mais que três semanas, dificultando ao clínico a atribuição a abuso. Apresenta bom prognóstico.A criança pode se apresentar hipotônica, irritada e vomitar com freqüência.

8. Quadro Clínico:
Retardo mental; (King et al, 2003; Isaac & Jenny, 2004)
Distúrbios comportamentais; (Isaac & Jenny, 2004)
Déficits visuais; (Isaac & Jenny, 2004; Kivlin et al, 2004)
Espasticidade; (King et al, 2003)
Quadriparesia; (King et al, 2003)
Compromentimento motor severo; (King et al, 2003; Isaac & Jenny, 2004)
Epilepsia (Isaac & Jenny, 2004)

9. Tratamento:
As crianças normalmente precisam de cuidados multidisciplinares e educação especializada (King et al, 2003).

10. Prognóstico:
Existe um grande índice de mortalidade entre as crianças, variando de 7 a 30% dos casos. Em torno de 30-50% dos casos vão apresentam distúrbios cognitivos e neurológicos. E cerca de 30% podem ser recuperar, mas sem que seja descartada a possibilidade de seqüelas neurológicas (Isaac & Jenny, 2004).

Brena Guedes de Siqueira RodriguesFisioterapeutaContato: brenagsr@yahoo.com.br

quarta-feira, setembro 24, 2008


Dislexia: (do grego) dus = difícil, mau; lexis = palavra


Dislexia é..."Uma desordem, que se manifesta pela dificuldade de aprender a ler, apesar da instrução ser a convencional, a inteligência normal, e das oportunidades socioculturais.Depende de distúrbios cognitivos fundamentais que são, frequentemente deorigem constitucional.."(Federação Mundial de Neurologia, 1968).


"A Dislexia é uma dificuldade duradoura de aprendizagem da leitura e aquisição do seu automatismo, junto de crianças inteligentes, escolarizadas, sem quaisquer perturbações sensoriais e psíquicas já existentes.(APEDYS - França).


Nem os pais, nem os professores são responsáveis por esta dificuldade específica de aprendizagem. Porém não devem ignorá-la.


Sinais de Alerta

Problemas de Aprendizagem relacionados:

- Dificuldades na linguagem oral;

- Não associação de símbolos gráficos com as suas componentes auditivas;

- Dificuldades em seguir orientações e instruções;

- Dificuldade de memorização auditiva;

- Problemas de atenção;- Problemas de lateralidade;

Na leitura e/ ou na escrita:- possíveis confusões(ex: f/v; p/b; ch/j; p/t; v/z ; b/d...)- possíveis inversões;(ex: ai/ia; per/pré; fla/fal;cubido/bicudo...)- possíveis omissões:(ex: livo/livro; batata/bata...)


Respostas urgentes a implementar:

- Criação de estruturas de despiste e reeducação precoces.

- Consultas multidisciplinares para avaliação compreensiva de casos.

- Formação de professores numa pedagogia específica

-Meios de informação sobre estruturas de apoio a alunos com dislexia.Problemas de Aprendizagem relacionados:- Dificuldades na linguagem oral;

- Não associação de símbolos gráficos com as suas componentes auditivas;

-Dificuldades em seguir orientações e instruções;

- Dificuldade de memorização auditiva;

- Problemas de atenção;

- Problemas de lateralidade.


II ENCONTRO SER BEBÉ


Diferentes Olhares Sobre a Vinculação: Investigação e Intervenção em Portugal
LOCAL: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa DATA: 31 de Outubro de 2008

INFORMAÇÕES: Por favor, contacte a Associação Ser Bebé através do e-mail (serbebe.associacao@yahoo.com) ou através do telefone (217573317).
POR FAVOR, CONSULTE O NOSSO PROGRAMA NA PÁGINA SEGUINTE. INSCRIÇÕES: POR FAVOR, PREENCHA O BOLETIM DE INSCRIÇÃO QUE ESTÁ LOGO A SEGUIR AO PROGRAMA

e-mail: serbebe.associacao@yahoo.com Telefone 217573317

A pequena bruxinha e os seus óculos mágicos

As bruxinhas são meninas como as outras. Nem sempre estão em forma, nem sempre têm vontade de rir, de meter medo às pessoas, ou de adormecer belas princesas. Também lhes acontece terem gripe, ou otites, ter dores nos pés por causa de sapatos novos, ou dores de barriga por terem comido demasiado guisado de gato preto ou creme de abóbora. Algumas são muito tímidas; outras roem as unhas, ou têm vertigens quando estão em cima da vassoura. Ninguém fala delas nos livros de histórias, porque estão escondidas em casa. Conheci uma que era tão míope que não via mesmo nada. Nem sequer um palmo diante dela. Tudo lhe parecia turvo como uma nuvem de fumo. Por causa da sua miopia, esta feiticeirinha já tinha tido acidentes de vassoura terríveis. Um dia, em plena tempestade, tinha-se enfiado num relâmpago e chegou a casa toda pretinha. Numa outra ocasião, tinha falhado uma aterragem e tinha caído em plena sala de aula, em cima da cabeça da professora. Também estivera no centro de um ciclone, enquanto as outras colegas fugiam dele a sete pés. Por ver tudo nebuloso, mal conseguia ler o Grande Livro de Magia, o que lhe acarretava imensos problemas quando tinha de lançar sortilégios. Tinha transformado o seu fiel gatinho num banco cor de laranja; tinha oferecido à irmã um ramo de cardos a julgar que eram rosas, e os cardos tinham transformado a irmã num pulgão; no Dia do Pai, oferecera uma garrafa de licor mágico ao pai, e o licor transformou-o em sapo. A mãe tinha tido que preparar um antídoto em cinco segundos, antes que alguém o pisasse.— Já chega! — disse a mãe, um dia. Vou levar-te ao médico e ele vai receitar-te um belo par de óculos. — Nunca — disse a feiticeirinha que, como todas as bruxinhas, era muito vaidosa. — Vão rir-se de mim na escola Nunca se viu uma feiticeira de óculos. Nem a feiticeira Camomila, nem a madrasta da Branca de Neve, que era feiíssima, mas tinha olhos de lince. Nem sequer a madrinha má da Bela Adormecida. Eram más, mas viam bem.— Sofriam de outras coisas. A madrasta da Branca de Neve tinha um torcicolo horrível. A feiticeira Camomila tem o nariz vermelho e é um pouco surda. Tens sorte, tu. Vais ter um belo par de óculos e todos te invejarão. Serás a mais dotada das feiticeiras!A bruxinha escolheu um bonito par de óculos, amarelos e redondos como dois sóis. Agora até sentia que trazia luz nos olhos. Redescobriu o mundo que a rodeava. Como era muito míope, nunca tinha visto os olhos do seu gato preto a brilhar, o sorriso da sua mãe a cintilar, ou o seu pai a cofiar o bigode. Do alto da sua vassoura, a centenas de quilómetros da terra, conseguia ver tudo até ao mais ínfimo pormenor: as crianças que estudavam, ao mesmo tempo que sonhavam voar como pássaros; a professora que pensava no noivo, enquanto lia um ditado, um velhinho muito triste, porque o seu gato desaparecera. É que agora a feiticeirinha conseguia ver o que os outros não viam. Até parecia que tinha óculos mágicos… Como era belo o mundo! Aprendeu a fazer coisas fantásticas: devolveu o gato ao velhinho, transformou as lágrimas em sorrisos, as pedrinhas em bombons, as professoras em fadas, e os sapos em príncipes. Tudo isto rendeu-lhe um “Excelente” na caderneta escolar. As colegas ficaram muitíssimo invejosas. Diziam, despeitadas:— São óculos mágicos, óculos de fada!É um facto que as feiticeirinhas só sonham em transformar-se em pequenas fadas. Assim, todas pediram às mães:— Compra-me uns óculos! Não vejo nada!E a feiticeirinha ria à socapa. Ela sabia que não se tinha transformado em fada. Mas podia compreender tudo e ver tudo o que não compreendera nem vira antes. Tinha olhos de lince e podia agora admirar a beleza do mundo.Às vezes, tirava os óculos. Tirava-os quando lhe apetecia ficar longe do mundo, repousar, ficar sem ver tudo e sem compreender tudo. Contudo, quando queria transformar-se na melhor das feiticeiras, quando queria aprender truques engraçados que ajudassem as pessoas, voltava a pôr os óculos mágicos. Escusado será dizer que nunca mais aterrou em cima da cabeça das professoras.
Sophie CarquainCent histoires du soirParis, Ed. Marabout, 2000


O Clube de Contadores de Histórias
eb1@contadoresdehistorias.com http://www.prof2000.pt/users/historias

quinta-feira, junho 19, 2008

Autismo – Intervenção terapêutica na 1.ª infância


O conceito de autismo tem sofrido modificações
diversas nos últimos tempos. Desde as primeiras
observações de Kanner e a teorização de
Mahler de autismo como fase do desenvolvimento
normal, muito se avançou no estudo do desenvolvimento
infantil, nomeadamente no reconhecimento
no recém-nascido de um equipamento
sensório-motor e perceptual relativamente diferenciado,
a par com uma capacidade inata de
comunicar com o exterior através de modalidades
interactivas relativamente complexas.
Hoje o autismo é encarado pela maioria dos
autores como uma perturbação severa da relação
e da comunicação, apresentando a criança dificuldades
marcadas na regulação, processamento
e organização da experiência sensorial e perceptiva.
Face à gravidade destas situações, vários tipos
de tratamento têm sido implementados, numa
tentativa de encontrar a melhor forma de abordar
o processo patológico.
A intervenção terapêutica no autismo durante
a 1.ª infância está estreitamente associada à
questão do diagnóstico precoce destas situações.
De facto, a evolução destas crianças depende
largamente de uma detecção atempada de sinais
e sintomas que permitam a implementação precoce
de um tratamento, para além de depender
da gravidade da perturbação e dos meios de intervenção
de que dispomos.
No 1.º ano de vida o diagnóstico clínico é difícil.
O estudo de videos familiares e também a
observação directa das crianças têm-nos auxiliado
na caracterização de alguns destes sinais, que
não são no entanto patognomónicos e devem ser
interpretados cuidadosamente.
Geralmente o diagnóstico é efectuado mais
tardiamente, durante o 2.º ou mesmo no 3.º ano
de vida. Não é raro serem os pais os primeiros a
mostrar apreensão face à criança e a alertar o
médico assistente, que no-la envia após processos
de investigação mais ou menos longos. Menos
frequentemente, os pais chegam à consulta
de Pedopsiquiatria por iniciativa própria e sem
antes terem recorrido a outros serviços de saúde.
Em qualquer das situações, os pais apresentam-
nos geralmente uma criança que os preocupa
em primeiro lugar pelo atraso de linguagem:
em certos casos a criança nunca falou, noutros
houve uma regressão da linguagem e em outros a
perturbação da linguagem consiste numa neolinguagem
ou numa ecolália. O défice nas interacções
sociais é outra das preocupações dos
pais: são frequentemente crianças que se relacionam
por momentos breves, que alternam com
períodos longos de retirada. Estes sinais, associados
a comportamentos bizarros como medos
inexplicáveis e actividades repetitivas, fazem
os pais referi-los como «bebés estranhos ou especiais».
São crianças que despertam nos pais sentimentos
de tristeza e de perplexidade pela indiferença
que parecem mostrar na relação – parecem
de facto não necessitar afectivamente dos
pais e serem mesmo incapazes de usar os cuidados
maternos. Penso que é também este o sentimento
do observador quando está com estas
crianças – é no fundo o sentir-se «inanimado»
pela tendência que a criança com autismo tem de
ignorar o outro enquanto ser humano e de reconhecê-
lo como portador de um interior, de um
espaço psíquico e de afectos.
Seria o que Uta Frith chama, na sua Teoria da
Mente, «a incapacidade de reconhecer e de empatizar
com o estado mental do outro, de reconhecer
os sentimentos da outra pessoa e de empatizar
com ela».
Devido a este quadro, os pais chegam-nos frequentemente
num estado de grande desespero;
sentem-se impotentes, completamente ultrapassados
pela situação. Alguns ainda não desistiram
de tentar entrar em contacto com a criança e continuam,
na sua ânsia de obter respostas, a estimulá-
la de uma forma muitas vezes excessiva, à
qual a criança reage com retraimento, criando-se
assim ciclos viciosos na comunicação. Outros
pais acabaram já por desistir, desiludidos pela
ausência de respostas por parte da criança.
Como poderemos então ajudar estes pais e
estas crianças a encontrarem-se e a encontrar um
espaço de relação?
Na abordagem terapêutica que praticamos na
Unidade da Primeira Infância (e alargando o
diagnóstico de autismo ás crianças com o
diagnóstico de perturbação grave da comunicação
e da relação), procuramos sempre ter em
conta dois aspectos:
1) A globalidade do funcionamento psíquico
da criança e a existência de dificuldades a
vários níveis (linguístico, motor, cognitivo,
afectivo). É importante compreender a
criança no seu todo e não implementar terapias
isoladas, direccionadas exclusivamente
a uma área do funcionamento.
2) O impacto da perturbação da comunicação
na relação pais-criança e as «distorções»
que aquela traz consigo. Se existir um melhor
conhecimento da criança pelos pais,
com a ajuda do terapeuta, é possivel modificar
o registo afectivo da comunicação
pais-criança e torná-la mais adaptada às
modalidades «especiais» da criança.
Para além destes aspectos, há ainda a considerar
que muitas destas crianças apresentam uma
hipersensibilidade ou reactividade excessiva a
determinados estímulos do exterior (devida a
dificuldades na regulação destes estímulos), o
que as levaria a desenvolver reacções de evitamento,
em casos extremos a construir verdadeiras
barreiras contra um meio exterior sentido como
traumático. Este «corte» com a realidade vai
impedir a criança de captar informação e de organizá-
la em traços mnésicos; as experiências relacionais
não são desta forma integradas nos esquemas
sensorio-motores, os elementos da realidade
são percepcionados de forma fragmentada,
não coerente, não se desenvolvendo os processos
mentais necessários à organização de um espaço
psíquico (Self emergente).
Apesar do seu retraimento e isolamento acentuados,
estas crianças estabelecem no entanto,
por momentos mais ou menos breves, modalidades
de contacto com o exterior, embora o façam
através de formas muito primitivas de comunicação.
Se o terapeuta se mantiver atento a estes
fragmentos, a estes pequenos momentos de
contacto, é-lhe possível dar o primeiro passo
para iniciar com a criança algum tipo de envolvimento
interactivo. E será este um dos primeiros
objectivos da terapia – conseguir fornecer à
criança experiências interactivas que lhe permitam
organizar um sentimento de si própria como
indivíduo capaz de se relacionar e de estabelecer
com os outros sequências interactivas em que
exista reciprocidade e intencionalidade. Nesta
perspectiva, o terapeuta deve sempre ter em
atenção que as defesas da criança não deverão
ser forçadas acima dos limites por ela suportáveis,
pois isto poderia levar, inversamente, a uma
retracção da criança.
A melhor maneira de construir esta ponte de
140
ligação com a criança será prestar atenção àquilo
que parece interessá-la e seguir a sua espontaneidade,
procurando dar um significado afectivo a
pequenos sinais, como um gesto, um olhar fugaz,
de forma a que estes possam adquirir um sentido
na comunicação. Será o que alguns autores chamam
«abrir e fechar círculos de comunicação».
Isto requer do terapeuta uma grande capacidade
de atenção empática, em relação aos comportamentos
da criança e também em relação aos
seus próprios estados afectivos desencadeados
pela criança. Nesta fase, o terapeuta terá muitas
vezes que recorrer a formas mais primitivas de
comunicação, que envolvam o gesto, o movimento
e não apenas à linguagem – é importante
nunca trabalhar acima do nível de desenvolvimento
da criança e ter em conta que no início, as
palavras usadas isoladamente ou como conceitos
abstractos, se revestem de pouco significado
para a criança.
Claro que cada criança é única e não há métodos
abrangentes que possam ser aplicados a todas
elas. Algumas delas, por exemplo, devido às
suas dificuldades na regulação dos estímulos,
são sobrereactivas a estímulos sonoros e basta
um tom de voz mais alto do terapeuta para provocar
retraímento ou aumentar as suas actividades
perseverativas. Outras são hipersensíveis a
estímulos visuais – luzes intensas ou expressões
faciais muito animadas podem ser suficientes para
ultrapassar o limiar por elas suportável.
Perante as características e competências únicas
de cada criança, o terapeuta tem a seu cargo
descobrir quais as modalidades interactivas que
lhe permitem criar um espaço de relação, um envolvimento
emocional, em que a criança comece
a sentir prazer em estar com o outro.
À medida que o terapeuta vai conseguindo estabelecer
novas e mais sólidas pontes de contacto
com a criança, o isolamento e as actividades
repetitivas diminuem, a capacidade de
atenção aumenta e é então possível introduzir
alguns símbolos no discurso, sempre relacionados
com o contexto interactivo (por exemplo, fazer
rolar um carrinho a velocidades diferentes e
ir pontuando com «depressa» e «devagar»).
Progressivamente, a criança vai integrando as
sequências interactivas nas suas representações
mentais, adquire a capacidade de categorizar as
experiências ao nível destas representações, que
no início são apenas «ilhas de representações»;
eventualmente adquire a capacidade de fazer ligações
entre as ideias e aceder a formas de pensamento
mais diferenciadas.
Relativamente aos pais, estes podem estar
presentes nas sessões e através da observação do
terapeuta com a criança, começar a entender melhor
as reacções do seu filho e a conseguir uma
leitura mais contingente dos seus sinais «afectivos
». Ao fim de algumas sessões, há uma maior
adaptação dos pais às modalidades particulares
de contacto da criança e vários estudos mostraram
que, após um período de 5 a 8 meses de tratamento,
existe um aumento da capacidade de
atenção da mãe face ao bebé e também aumento
da reciprocidade na interacção.
Numa segunda fase do tratamento, consideramos
de particular importância promover o processo
de socialização. A existência de unidades
de dia onde a criança possa receber, para além de
apoio terapêutico individual, apoio ao desenvolvimento
psicomotor e à socialização, torna-se
então fundamental.
Passaria agora a apresentar o caso clínico de
uma criança com o diagnóstico de autismo, a
quem chamarei João (J.).
O João tem já 3 anos de idade quando vem
pela primeira vez à consulta de Pedopsiquiatria.
Vem acompanhado por ambos os pais.
A mãe refere ter começado a preocupar-se
com o comportamento do J. cerca dos 18-20 meses.
Uma das suas preocupações dizia respeito à
regressão da linguagem – o J. em bebé tagarelava
bastante, dizia papá e mamã, aquisições que
acabou por perder. Neste momento diz raras palavras
(colo, à rua, deixa) e vocaliza pouco.
Durante os últimos 6 meses perdeu o interesse
pelos objectos e usa de forma sistemática o evitamento
do olhar. Não entra em contacto com
outros familiares ou pessoas a não ser com a
mãe.
È descrito como uma criança geralmente bem
disposta, mas que por vezes faz birras prolongadas
e inexplicáveis, sem desencadeante aparente.
Apresenta uma grande intolerância à frustração
e desiste facilmente de objectos que parecem
inicialmente interessá-lo. A mãe refere ainda
reacções de rejeição violentas perante todas as
situações novas, com comportamentos de auto e
141
de heteroagressividade difícilmente controláveis
pelos pais.
À observação, o J. é uma criança de aparência
física agradável, harmonioso e apresenta-se bem
cuidado. Ao primeiro contacto notamos que faz
birras excessivas, desencadeadas abruptamente
apenas pela entrada no espaço do Serviço. A
mãe não consegue acalmá-lo e é ele que acaba
por se acalmar por si próprio ao fim de bastante
tempo. Só nesta altura começa a interessar-se por
alguns brinquedos que se encontram no gabinete,
mas cedo verificamos que o J. se mantém pouco
tempo na mesma actividade – passa rapidamente
de um brinquedo a outro, manuseando-os simplesmente,
numa actividade sem qualquer esboço
de significado.
Passa grande parte do tempo a deambular pelo
gabinete, completamente alheado, indiferente
ao que o rodeia. Durante estes percursos dirigese
algumas vezes aos pais, sem no entanto interagir
com eles.
A entrevista vai sendo pontuada por crises
clásticas, que parecem não ter qualquer factor
desencadeante imediato. Durante todo o tempo
que permanece no gabinete, o J. não estabelece
contacto visual; a linguagem limita-se a «sons» e
pequenos estalidos com a língua, os quais repete
de forma estereotipada, sem qualquer intenção
de comunicar. Não parece entender a linguagem,
uma vez que não responde a ordens simples.
O J. tinha já realizado vários exames complementares
de diagnóstico, que se revelaram todos
eles negativos. Iniciou então no nosso Serviço
uma psicoterapia de frequência bissemanal e
encontra-se em seguimento há cerca de um ano e
meio.
Quais foram os grandes desafios que se nos
colocaram com o J.?
Inicialmente o J. não se separava da mãe; durante
as sessões, a sua atitude alternava entre
momentos de alheamento e reacções heteroagressivas
de grande violência, aparentemente
inexplicáveis, acompanhadas de choro e gritos.
Recusava activamente o contacto comigo e tinha
grande dificuldade em suportar o espaço fechado
do gabinete, queria constantemente sair.
Foi necessário trazê-lo durante algum tempo
para um espaço mais aberto, onde não sentisse a
minha presença de uma forma tão ameaçadora.
Neste espaço, o deambular era uma constante
– a minha atitude foi a de tentar mobilizar a sua
atenção, procurar que sentisse prazer durante os
breves momentos em que estava comigo e trazê-
-lo assim para a relação.
Inicialmente isto foi conseguido através de
jogos de movimentos corporais e era nestes momentos
que ele começava a olhar-me, embora
sempre de forma fugaz. Estes progressos permitiram,
depois de algumas sessões, voltar para o
espaço do gabinete.
Outro dos desafios foi tentar modificar as
actividades repetitivas e transformá-las em actividades
interactivas intencionais, o que penso ser
um dos maiores desafios que se colocam aos terapeutas
destas crianças. Como disse anteriormente,
o objectivo do terapeuta será sempre
abrir e fechar círculos de comunicação e é neste
sentido que deve procurar ultrapassar este obstáculo.
Por exemplo, no caso do J., ele passava
muito tempo a alinhar objectos – comecei primeiro
por alinhar com ele os objectos, depois
por trocar-lhes a ordem habitual ou então estendia-
lhe o próximo brinquedo que sabia ser habitual
ele ir buscar e ele passava a aceitá-lo da minha
mão. Inicialmente o J. voltava a pôr os
objectos segundo a mesma ordem, ou simplesmente
desinteressava-se, outras vezes zangavase
e atirava com os brinquedos, ao que eu respondia
sempre com o reconhecimento dos seus
estados afectivos.
Apesar destas reacções serem aparentemente
negativas, elas são no entanto reacções afectivas
contingentes e acabam por permitir fechar o círculo
de interacção iniciado. É mesmo durante os
momentos de frustração que a criança está motivada
para abrir e fechar vários círculos de comunicação;
embora não deva deliberadamente frustrar
a criança, o terapeuta deve ter presente que
estas situações de «zanga» também derivam, de
certo modo, de divergências de opinião, que podem
por sua vez ser usadas para entrar em contacto
com a criança.
Apesar das melhorias conseguidas, o J. continuava
a isolar-se muito nas sessões e a rodopiar
sobre si próprio repetidamente. Este foi outro
dos desafios a vencer – muitas vezes segurava-
-lhe as mãos e rodava também com ele ou procurava
transformar o rodopiar num jogo de movimento
e dar-lhe assim algum significado.
O J. começa finalmente a interessar-se pela
sua imagem no espelho. Faz várias experiências
142
em frente ao espelho colocando plasticina no cabelo
ou tapando com ela os ouvidos; coloca
ainda objectos sobre a cabeça, à laia de chapéu,
uma pequena mala às costas, num movimento
constante de se completar, de dar continuidade
aos limites do corpo.
Pela mesma altura inicia «jogos» em que parece
imitar cenas do seu quotidiano (pôr o ursinho
a dormir, a situação alimentar, sentar-se na
cadeira do bebé,...) no que parece ser uma colagem
a comportamentos observados, sem que estes
tenham um verdadeiro simbolismo.
Nas últimas sessões, o J. demonstra algumas
atitudes que me fizeram pensar que começa a reconhecer
no outro um interior subjectivo e a ser
sensível aos estados afectivos de pessoas que são
para ele significativas.
Começa a mostrar uma certa ambivalência em
relação a mim – agride-me quando o frustro, mas
quase de imediato pede o meu colo, a chorar, ficando
abraçado ao meu pescoço.
Quando quer ajuda para realizar os puzzles
coloca as peças directamente na minha mão e cada
vez com menos frequência usa a minha mão
para atingir os seus objectivos.
Ao nível da linguagem, existe agora uma
ecolália incipiente, que surge no contexto da
relação.
Apesar destes progressos, o J. continua a funcionar
frequentemente em modalidades unisensoriais
e as suas modalidades de conhecimento
são ainda fundamentalmente incorporativas.
Nesta fase, tentámos simultaneamente a integração
no grupo de crianças da creche terapêutica.
Inicialmente surgiram defesas autísticas
maciças, depois progressivamente o J. começou
a mostrar interesse pela actividade das outras
crianças e a tentar imitá-las, embora sem partilhar
ainda as suas experiências.
O J. fez, até ao momento e face à gravidade
da sua perturbação, uma boa evolução.
O futuro destas crianças, mesmo quando
submetidas a tratamento intensivo, é porém
incerto. No entanto, na nossa experiência temos
verificado que em muitos casos se conseguem
progressos consideráveis ao nível da relação
mãe-criança, na capacidade de socialização, de
vinculação às figuras parentais e melhoria na
capacidade de dar respostas afectivas contingentes.
Se a terapia for iniciada antes dos 24 meses
(principalmente em casos de autismo secundário),
se os pais forem interessados e colaborantes
e a criança mantiver o seu potencial cognitivo,
há a possibilidade de evoluções particularmente
positivas.

CRISTINA MARQUES
Assistente hospitalar de Pedopsiquiatria, Unidade
da Primeira Infância, Rua 6 à Calçada dos Mestres,
8, 1070 Lisboa.

Histórias lnfantis

para os pais e para os filhotes:

http://www.omundofazdeconta.pt/loja/index.php

segunda-feira, junho 09, 2008

Os 10 mandamentos da criança aos pais



1. As minhas mãos são pequenas: por favor não esperem a perfeição ao fazer a cama, desenhar, atirar e agarrar uma bola. As minhas pernas são pequenas: por favor abrandem para eu vos poder acompanhar.

2. Preciso de encorajamento para crescer. Por favor sejam brandos nas vossas críticas. Lembrem-se: podem criticar o que faço sem me criticarem a mim.

3. Os meus olhos não vêem o mundo do mesmo modo que os vossos. Por favor deixem-me explorá-lo em segurança. Não me impeçam de o fazer sem necessidade.

4. Os meus sentimentos ainda estão tenros. Não impliquem comigo o tempo todo. Tratem-me como desejariam ser tratados.

5. As tarefas domésticas estão sempre a precisar de ser feitas. Só sou pequeno por pouco tempo. Por favor percam tempo a explicar-me as coisas deste fantástico mundo em que vivemos e façam-no de boa vontade.

6. Por favor não vão "fazer por cima" tudo o que eu faço. Isso dá-me a ideia de que os meus esforços nunca alcançam as vossas expectativas. Sei que é difícil, mas não me comparem a outras crianças.

7. A minha existência é uma dádiva. Cuidem de mim como é esperado, responsabilizando-me pelas minhas acções, dando-me linhas de orientação e disciplinem-me de um modo afectuoso.

8. Por favor não tenham medo de ir passar fora um fim-de-semana. Os filhos precisam de férias dos pais como os pais precisam de férias dos filhos. É uma bela maneira de mostrarem como a vossa relação é especial.

9. Por favor dêem-me a liberdade para tomar decisões que me dizem respeito. Deixem-me falhar, para que eu possa aprender com os meus erros. Assim, um dia estarei preparado para tomar as decisões que a vida me exigirá.

10. Por favor dêem-me todas as oportunidades para eu aprender e bons exemplos para eu seguir. Assim poderei tornar-me numa pessoa verdadeira, recta e humana.

seria uma criança feliz


Então eu seria uma criança feliz
Se à segunda-feira se pudesse correr livremente pelos prados
e as flores desabrochassem numa explosão de cor…
Se à terça-feira se contemplasse o céu
no seu mistério de um azul sem fim…
Se à quarta-feira se retirassem as máscaras
e a verdade brotasse…
Se à quinta-feira a alegria entrasse nos corações…
Se à sexta-feira todos se dessem as mãos…
Se ao sábado os pais contassem aos filhos histórias de encantar…
Se ao domingo a beleza do silêncio se renovasse em cada ser…
Então eu seria uma criança feliz,
e a minha canção voaria por sobre as casas,
dançaria entre os ramos das árvores,
e à hora do crepúsculo repousaria sobre os mares do mundo,
tornada canção de embalar,
a encher de paz e de ternura os sonhos das crianças.

Anónimo

http://contadoresdestorias.wordpress.com/



segunda-feira, junho 02, 2008



criança desenvolve-se por um processo que abrange o seu corpo, a genética da espécie humana e os contextos nos quais ela viverá. Esse processo inicia-se com a família, com a cultura de seu país, com os espaços que irá freqüentar desde seu nascimento. Por isso, dizemos que a natureza do desenvolvimento humano é sempre biológica e cultural.
O desenvolvimento biológico tem duas dimensões: a externa e a interna. Assim, a espécie humana tem determinadas características em seu desenvolvimento físico que incluem não só o que percebemos no exterior — por exemplo, a fala, o aumento do peso, a estatura, a mudança das feições, das características sexuais e da voz —, mas, também, o que é interno e não podemos observar diretamente, como é o caso do cérebro.
O cérebro coordena a vida da pessoa. Ele recebe e processa as informações colhidas do meio ambiente pelos sentidos. É nele que estão contidas a nossa memória, as nossas experiências e aprendizagens. É também o órgão que controla várias funções físicas, além de ter como componente o sistema límbico, no qual se originam as emoções.
Nos últimos anos, aprendemos muito sobre o desenvolvimento do cérebro da criança desde a gestação até os seis anos de vida. Esses conhecimentos nos levam a considerar que o cuidado e a educação são aspectos de um processo global na formação da criança pequena, no qual a cultura tem um papel fundamental. Esse período de desenvolvimento é muito importante porque é quando o cérebro possui o que chamamos de grande plasticidade. Plasticidade é uma facilidade maior de estabelecer conexões entre as células nervosas em comparação com a idade adulta.
A criança pequena pode fazer várias coisas e apreender muitos conhecimentos, como: da natureza, de si própria, do seu corpo, das brincadeiras, das formas de expressar sentimentos e emoções, das outras pessoas, dos hábitos de sua família, das cores, dos cheiros, das textura, da luz, do movimento etc.
A cultura, a natureza e os outros seres humanos constituem, em princípio, a mola propulsora do desenvolvimento da criança. Em outras palavras, o desenvolvimento do cérebro não é autônomo e independente do meio: o que a criança realizar na sua vida cotidiana, desde o nascimento, contribuirá para o desenvolvimento das funções cerebrais. A quantidade e a qualidade dos conteúdos aprendidos são, dessa forma, função do meio.
Como se desenvolve, então, a criança pequena?
A criança tem um desenvolvimento integrado. O desenvolvimento físico está intimamente relacionado ao psicológico e ao cultural. Isso quer dizer que ela é uma pessoa com personalidade própria que se torna membro de um grupo com base nas experiências que tem em seu meio. Essa relação com o meio será estabelecida, por sua vez, pelas possibilidades determinadas pelo desenvolvimento biológico.
O desenvolvimento físico segue a linha da evolução da espécie humana, ou seja, a criança apresenta certas constâncias. Por exemplo:
todo bebê começará a estender o braço para pegar objetos com a mão a partir dos três meses de idade;
toda criança começará a andar no segundo ano de vida, às vezes, um pouco antes;
toda criança aprenderá a língua falada no seu meio;
toda criança sorrirá e aprenderá a usar o sorriso de acordo com sua cultura;
toda criança começará a desenhar por um risco ligeiramente curvo até chegar a fechar a linha e traçar uma linha circular. Depois poderá traçar linhas retas e ângulos que se aperfeiçoarão até chegar às figuras geométricas.
A possibilidade de realizar esses feitos está ligada ao amadurecimento do sistema nervoso e não se antecipa pelo treinamento. Na verdade, adiantar essas realizações da criança pode trazer prejuízos para o seu desenvolvimento.
Muitas vezes o que a criança adquire naturalmente com base na cultura e nas relações com o meio é inserido no “currículo” da creche ou da pré-escola. Um exemplo ilustrativo é a identificação das cores e a aprendizagem dos seus nomes.
Todo ser humano percebe as cores do meio e aprende os nomes que elas recebem, indo ou não à escola. Uma criança na Floresta Amazônica reconhece muitos tons de verde, diferentemente de uma criança esquimó, que aprende a identificar “muitos brancos” pela presença da neve e do gelo.
Descobrir a diversidade das cores — como misturar cores primárias, diferenciar tons das cores secundárias, modificar as escalas de tons com a adição do branco — é uma experiência que não acontece na vida cotidiana e que deve ser feita na escola. Ela tem como resultado o desenvolvimento da percepção da criança.
Daí o significado da escola na vida do indivíduo: ampliar e apresentar novas formas de atividade, de pesquisa e de descoberta que não são oferecidas de forma direta pela vivência na família e na comunidade.
O amadurecimento do sistema nervoso na criança pequena
A partir do nascimento são ativadas determinadas áreas do cérebro, de forma que, no terceiro ano de vida, a sua configuração está muito próxima ao cérebro adulto com relação às várias partes ativas.
A intensa atividade que se verifica nos primeiros dois anos de vida permite que a criança desenvolva a noção de si mesma como um corpo diferenciado no espaço e como um indivíduo autônomo, separado dos outros. Caminha, assim, na formação de sua identidade e de sua personalidade. Nesse período, ela também apresenta um grande crescimento físico e realiza a herança da espécie: põe-se de pé e começa a andar.
Uma grande aquisição da criança nesse período é, sem sombra de dúvida, a linguagem, que pode ser realizada por meio da fala ou da libras (linguagem de sinais). O desenvolvimento da oralidade, acompanhado pelo enriquecimento do vocabulário, fará da criança pequena um ser comunicativo em potencial.
Acrescentada aos outros sistemas de comunicação, a linguagem traz à criança a possibilidade de ter uma participação maior no mundo cultural. Ela cria um campo comum de comunicação entre o adulto e a criança.
Ao final de seu terceiro ano de vida, com o domínio do corpo, com a autonomia na locomoção e com as bases da fala formadas, a criança inicia um período em que “a preocupação principal” é a de “absorver” o mundo. Há, nesse momento, um componente biológico muito forte: no cérebro de uma criança circulam o dobro de glicose e de sinapses se comparado ao de um adulto. Biologicamente ela está “pronta e disponível” para aprender muito e para se expressar de várias formas.
A criança, em seu quarto ano de vida e nos dois a três anos que se seguem, realizará tarefas bem complexas, como desenvolver e ampliar a função simbólica.
Uma descoberta importante das Neurociências é que várias atividades da vida cotidiana, como brincar ou ouvir música, têm um profundo sentido educativo. Elas levam ao desenvolvimento de “redes neuroniais” de grande resiliência, que poderão ser acionadas em aprendizagens posteriores, inclusive as escolares. A experiência musical tem comprovada importância no aprendizado na área de matemática, por exemplo.
A imaginação
Vários aspectos são importantes para o desenvolvimento da criança: o tempo, o espaço, a comunicação, as práticas culturais, a imaginação e a fantasia, a curiosidade e a experimentação. Destacaremos aqui a imaginação.
Os primeiros anos de vida do ser humano são especiais para o desenvolvimento da imaginação. Contrariamente ao que se pensa, a criança pequena desenvolve sua imaginação e faz isso com base nas experiências que acumulou desde o seu nascimento.
As idéias de que a “imaginação infantil é fértil” e “a criança tem muito mais imaginação do que o adulto” devem-se fato de as ligações feitas pelas crianças das imagens percebidas e guardadas na sua memória obedecerem a leis diferentes do pensamento do adulto. Poderíamos dizer que há maior liberdade nas conexões feitas pelo pensamento infantil do que pelo adulto.
A criança é capaz de desenvolver conexões entre as coisas que observa no mundo, as ações do outro e suas conseqüências e a relação entre elementos da natureza. Ela está, portanto, em um processo de vinculação de fatos, informações, sentimentos e atitudes. Nele, a criança experimenta e transmite impressões e imagens, expressando-as pelas atividades plásticas, pela linguagem e pelo movimento corporal.
A riqueza expressiva da criança pequena é uma das razões pelas quais pensamos que ela tem uma “imaginação fértil”. Mas é preciso lembrar que o desenvolvimento da imaginação depende do meio em que a criança se encontra e das possibilidades dadas a ela para experimentar, conhecer e explorar os elementos ao seu redor.
A atividade da criança nesses primeiros anos gera, como já foi dito, impressões e vivências que farão parte do acervo de sua memória. Essas impressões e vivências envolvem tanto o movimento como os cinco sentidos: audição, tato, visão, paladar e olfato.
Como há uma grande disponibilidade biológica para se registrar impressões nos primeiros anos de vida, poderá haver um grande desenvolvimento da imaginação. Esta acompanhará a pessoa por toda sua vida, diversificando-se das chamadas aprendizagens formais.
Mas não é só em relação a essas aprendizagens que a imaginação é importante. Na vida cotidiana e no ato criador, a imaginação é elemento-chave. Percebemos, portanto, que o desenvolvimento da imaginação tem a diversidade como regra e está ligado ao desenvolvimento da própria memória.
Para a vida futura, o desenvolvimento da imaginação na infância é fundamental: de um lado para enfrentar os problemas do dia-a-dia, resolver conflitos, superar situações difíceis ou dolorosas; de outro, para criar novas situações, elaborar novas formas de trabalho, organizar a vida familiar e as ações comunitárias, aprender os conhecimentos que são ensinados na escola.
As atividades em qualquer domínio das artes envolvem a imaginação da mesma forma que ela é elemento essencial no desenvolvimento das Ciências. A imaginação é mola propulsora do desenvolvimento da cultura e do conhecimento humano em todas as esferas.
Por esse motivo, devemos aproveitar a Educação Infantil para desenvolver atividades curriculares que favoreçam a imaginação da criança, e, culturalmente, façam parte da infância — como brincadeiras, cantigas, poesias, histórias —, incluindo a prática de atividades criativas, tanto em Arte como em Ciências.
A Educação Infantil é a possibilidade escolar de formar na criança as bases que possibilitarão aprendizagens escolares futuras, na escrita, na leitura, na Matemática, na Física; enfim, em todas as áreas curriculares.
No entanto, para tudo isso ser eficiente na sua formação, é preciso trabalhar com estratégias próprias do desenvolvimento infantil e respeitar o tempo necessário para a realização de cada atividade. O desenvolvimento da imaginação na criança dependerá do entendimento que os adultos têm da infância e dos comportamentos próprios da idade.
(1)Adaptado de Como a criança pequena se desenvolve, da autora.
Elvira Souza Lima, pesquisadora especialista e consultora internacional em Desenvolvimento Humano. Formada em Antropologia, Neurociências e Psicologia, é doutora em Ciências da Educação pela Universidade Sorbonne, na França, e pós-doutora em Sociolingüística e Antropologia pela Universidade Satnford, nos Estados Unidos.


domingo, maio 25, 2008

Ser Mãe...Um grande desafio

O primeiro grande desafio é compreender a criança com todo seu potencial de ser humano nas diversas fases do desenvolvimento , favorecendo a manifestação de sua capacidade e individualidade. E o que isto significa?- Nenhuma indiferença e nenhuma comparaçção com o passado ou com outro irmão ou vizinho. Cada criança é uma pessoa, um processo , uma história.
Será que existe alguma mãe perfeita?Ser mãe não é fácil. Para todas as profissões existe um curso , uma escola, uma universidade.
E para tornar-se mãe?
Existe alguma escola para mães
?Na nossa sociedade como de outros culturas, existe muita cobrança e pressões de tendências religiosas, política-econômica, ideológica,etc no cumprimento do papel da mulher como mãe. E observamos que quase sempre ela própria exige isso de si mesma. Esta cobrança e a falta de informações sobre o universo infantil, causa tensões e conflitos no ambiente familiar gerando na mãe um grande sentimento de culpa. Ser mãe, realmente não é fácil. Além dos outros papéis que desenpenha na sociedade, a mulher também encontra-se em processo de desenvolvimento, possuí uma personalidade , uma forma de ser e se posicionar no mundo, sonha, deseja, enfim, tem um passado e uma história que considera agradável ou desagradável e tudo isso pode interferir na relação que irá establecer com os filhos. Sendo assim, mãe também necessita de apoio emocional e de um ombro amigo ou de um ouvido disposto a prestar atenção nas dificuldades que podem surgir no seu dia a dia, sem cobranças ou críticas.Até hoje não inventaram nenhuma escola ou universidade onde a mulher pudesse tornar-se "boa mãe", no entanto, todos cobram dela perfeição.A ciência do comportamento e do desenvolvimento infantil evoluiu bastante nos últimos anos, mas apesar disso e felizmente, os estudiosos dessa ciência afirmam com segurança que não existe nenhuma "receita mágica" que alguém possa seguir para tornar-se uma boa mãe ou um bom pai. Muitos pais desejam a tal "receita ou guia". Como isto seria possível, se nem mesmo os gêmios são iguais? Os conhecimentos da Psicologia Infantil pode facilitar a tarefa dos pais, pois descreve as diversas fases do desenvolvimento que são comuns 'a maioria das crianças, mas é somente na relação com a criança que mãe aprenderá a compreendê-la e entender suas necessidades...Gostaríamos de proporcionar-lhe um momento de reflexão a respeito de sua visão em relação a criança e o significado que você atribuí à maternidade.

Qual é o seu conceito sobre maternidade e criança?
Como você se sente neste papel?É importante refletir sobre estas questões e deixar claro que tipo de idéias (ideologias, filosofias, poesias...) estão influenciando o relacionamento com seu filho e de que forma estão interferindo na sua imagem materna? Isto pode evitar tensões e principalmente sentimentos de culpa. E lembre-se, que você também é humana e como todos os outros, você também possuí necessidades, qualidades e fraquezas e acima de tudo, deseja ser feliz e ...
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Joca quer ser

Perguntaram ao Joca o que é que ele queria ser quando fosse grande. São, às vezes, muito impertinentes os senhores adultos.Fez-se silêncio na sala, à espera da resposta do menino.Nisto, ouviu-se, na rua, uma ambulância a apitar:— Ni-nó-ni... Ni-nó-ni...Logo o Joca respondeu:— Bombeiro.Passado pouco tempo, outro senhor adulto fez a mesma pergunta ao Joca:— Quando fores crescido o que é que queres ser?Entre a pergunta e a resposta um silêncio, cortado pelo roncar, longe, de um avião:— Roooooooommm...Logo o Joca respondeu:— Aviador.Minutos depois, mais um senhor curioso fez a pergunta do costume, precisamente na altura em que uma banda de rock pum-tá-tchim-pum se exibia na televisão. O Joca respondeu:— Músico.Mudaram de canal, por coincidência, quando o locutor gritava, a meio de um desafio de futebol:— Goooooolooooo!E o Joca também gritou:— Futebolista.Nova mudança de canal, para uma correnteza rápida de notícias, entre as quais um desfile militar, o que fez com que o Joca logo mudasse de opinião e dissesse:— Soldado.Na tribuna de honra, um respeitável senhor de cabelos brancos perfilava-se, diante das tropas em parada. O Joca não hesitou mais e disse:— Presidente da República.Bombeiro, aviador, músico, futebolista, soldado, Presidente da República... Em que ficamos Joca?— Agora vou brincar — disse o Joca, cansado de ter passado por tantas profissões, em tão pouco tempo.Neco, o primo mais novo, seguiu-o a correr.— Ao que vamos brincar, Joca? — quis saber o Neco, que era muito bem mandado em coisas de brincadeira.— Vamos brincar aos bombeiros – decidiu o Joca.— Com ambulâncias, carros encarnados, mangueiras?— Vamos — entusiasmou-se o Neco.Mas o Joca interrompeu-lhe os planos.— Vamos antes brincar aos aviadores — resolveu ele.— Com aviões, aeroportos, para-quedas? Vamos — entusiasmou-se o Neco.Nova interrupção do Joca:— Vamos antes brincar aos músicos.E por aí fora, por aí fora, sem se decidir por uma brincadeira... Em que ficamos, Joca?Se ele aqui estivesse e lhe apetecesse responder, talvez a resposta lhe saísse em verso, em forma de canção ou pouco mais ou menos. Cantiga do Joca Quero ser tudoquero ver tudobrincar a tudoe mascarar-me,fora do Entrudo,de sobretudo,feito graúdohomem de estudomuito sisudoe carrancudomuito barbudoe narigudo,mas cá por dentronunca deixarde ser miúdo.

António Torradowww.historiadodia.pt

sexta-feira, maio 23, 2008

Artigo da Visão sobre as crinças

"A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa
e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas
tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a
criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser
diferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso
lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o
berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.
Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada,
diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda,
jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não
se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em
convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e
torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles
estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó
e numas férias à maneira.
A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo
de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa.
Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não
limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr
nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e
umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima
de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora.
Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão
fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do
ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas
bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho,
pois quem sabe do meu filho sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha,
continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário
deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a
fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em
zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem sei.
Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar
ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E
então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos ".

terça-feira, abril 29, 2008

PAZ

Paz
De vez em quando,
procura um espaço de silêncio.
O barulho excessivo é prejudicial.


Jacob procura um deserto

O professor de religião está a explicar às crianças por que razão os profetas e Jesus gostavam de ir para o deserto.
— No deserto, o homem está completamente sozinho. Pode fazer silêncio e meditar. Pode pôr-se à prova e ver se consegue passar sem as coisas a que está habituado: sem boa comida e sem conforto, sem diversões e amigos. Não há nada que o distraia quando quer falar com Deus.
— O Sr. Professor já esteve no deserto? — pergunta Jacob.
— Já — responde o professor. — Depois de visitar Jerusalém fui até lá. Gostei tanto, que quase nem consigo descrever.
"Eu também gostava de ir para o deserto" — pensa Jacob. Só é pena que à beira de sua casa não haja nenhum deserto, nenhum local onde possa ficar em silêncio e meditar.
Ou será que há?
No quarto de Jacob, a seguir ao almoço, não há barulho. Só ouve, baixinho, a música da Antena l vinda da casa do vizinho e a mãe a lavar a loiça na cozinha. No pátio, uma criança atira a bola repetidamente contra a parede, e ao longe ouve-se o ruído dos automóveis.
Ali ainda há demasiado barulho para poder estar em silêncio, mas, se fizer um esforço, talvez consiga abstrair-se. Jacob vai perguntar à mãe se pode ir dar um pequeno passeio.
Não é fácil encontrar na cidade um pouco de deserto. Talvez no parque, mas ao lado está a ser aberta uma estrada, e as máquinas fazem tanto barulho que nem se consegue ouvir os pardais a chilrear no arvoredo.
Três quarteirões mais à frente, atrás da fábrica de calçado, há uma sucata. Está fechada com arame farpado, mas Jacob conhece um buraco por onde pode escapar-se. O local da sucata é uma paisagem deserta, só com canos de fogões, detritos, máquinas de lavar e peças de automóveis. Um homem já de certa idade caminha, curvado, por entre os montes de ferro-velho e recolhe metal.
— Andas à procura de alguma coisa? — pergunta, olhando para Jacob.
Jacob salta novamente para a estrada e anda, anda, até chegar em frente da casa de Catarina. Sobe as escadas e toca à campainha.
— Ando à procura de um local para meditar – diz-lhe ele.
Ela condu-lo à sala, afasta para o lado livros e brinquedos com o pé, e encosta uma almofada à parede.
— Pronto, senta-te aqui — diz ela. — Vou ficar quieta para tu poderes meditar.
Catarina senta-se à mesa a fazer os trabalhos de casa. Não diz uma palavra nem olha uma única vez para Jacob. A sala está tão silenciosa que ele consegue ouvir a caneta de tinta permanente a arranhar o papel. E o ruído abafado que os sapatos fazem quando Cati roça a perna da cadeira, porque Cati nunca consegue sentar-se totalmente quieta.
Jacob fecha os olhos. Ouve a sua própria respiração e admira-se por respirar tão devagar. Sente como a barriga sobe e desce quando respira. O sangue palpita-lhe levemente nas orelhas e também no pescoço. Cati foi muito simpática em tê-lo deixado ficar na sala, mas Jacob não lho diz.
— Está-se tão bem aqui. Quase como no deserto.
— Se andas à procura de um deserto, tens de ir à sucata.
— Já lá estive — diz Jacob.
— E?...
— Nada.
— Tens de atravessar devagarinho e com calma a sucata toda — diz Cati. — Não vás só pela beira.
De regresso a casa, Jacob volta a entrar pelo buraco do arame farpado.
— Então, de que é que andas à procura? — pergunta o velho. — De alguma coisa para a bicicleta? Talvez possa ajudar-te.
— Eu só vim dar uma volta — diz Jacob, e continua por entre o ferro-velho. As pedras rolam-lhe por debaixo dos pés, escorrega, segue em frente. Ouve-se o vento a assobiar. Um cão ladra algures.
No céu, bandos de gralhas voam em círculos. Jacob fica espantado. Nunca pensou que ali fosse tão calmo. Não há nada que o distraia.
"Jesus" — pensa ele. — "O que achas do meu deserto?"
Lene Mayer-Skumanz
Lene Mayer-Skumanz (org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986
Tradução e adaptação
Clube de Contadores de Histórias

segunda-feira, abril 21, 2008

Brinca-se porque se brinca

" A actividade lúdica faz parte da vida, tal como dormir, comer, rir, chorar.Brincar é um fim em si próprio e não apenas um meio para se atingir qualquer outro objectivo.Brinca-se porque se brinca!Brinca-se a vida toda!"

ESTRATÉGIAS/ACTIVIDADES

-Criar uma boa relação afectiva com a criança

-Deixar a criança descobrir por si própria

-Colaborar com a familia numa partilha de cuidados e responsabilidades em todo o processo evolutivo da criança.Utilizar livros de pano ou de cartão grosso, com imagens que lhe sejam familiares, grandes coloridas, com figuras em relevo....

Explorar estas imagens/histórias através da conversa,perguntas simples e repetição de palavras.

Pedir ajuda à criança para virar as páginas do livro.Ler a história com diferentes sonoridades.

Utilizar fantoches.

Cantar canções simples e pequenas.Ensinar lenga-lengas simples e pequenas.

Sensibilizar a criança para o reconhecimento de sons,cheiros,sensações tácteis....


Identificar sons: vozes de animais. campainhas, apitos....Desenvolver a motricidade através de jogos simples: enfiamentos, puzzle, jogos de encaixe.Utilizar bolas coloridas.Construir torres com blocos/argolas.Pintar com os dedos.Pintar com pincéis grossos.Plasticina.Entregar á criança uma folha A3 e lápis de cera grossos e pedir para fazer um desenho (se necessário exemplificar)


Ana Paula Rola- Educadora de Infância do PIPREM

quinta-feira, abril 03, 2008

Caros Colegas,

Vimos por este meio informar a Nova Calendarização da Formação '+ Familia - Intervenção Centrada na Criança e na Familia' pela APC – Agência para a Promoção da Cidadania, Centro de Investigação, Formação e Intervenção Social, com o apoio da CPCJ Silves.


A Mesma passa a decorrer aos Fins de Semana, com o seguinte Horário: Sextas - 18h às 22h e Sábados 9h 30 m às 17h e 30m.

Nas seguintes datas: 11 e 12 de Abril , 18 e 19 de Abril, 2 e 3 de Maio, 9 e 10 de Maio, 17 de Maio.


Mais se informa que as inscrições ainda se encontram a decorrer com término no dia 7 de Abril. Segue em anexo ficha com mais informações.


Conteudo Programático
Mod. I Sistema de Protecção de Crianças e Jovens
(8h) (Enquadramento Jurídico-Legal)
Sistema de Protecção Social (Nacional e Local)
Mod. II Noções de desenvolvimento da criança e do jovem
(8h)
Mod. III Ciclos de Vida da Família
(4h)
Mod. IV Princípios da intervenção psicossocial com crianças e jovens
(4h)
Mod. V Modelo de avaliação e intervenção centrada na família
(8h)
Mod. VI Trabalho em rede: técnicas de operacionalização de parcerias e sua
(8h) mobilização
Mod. VII Desenho do projecto de intervenção da família e da criança
(16h)



Para inscrição contactar:

CPCJ Silves - 282 443 519 tm. 91 951 66 16


Com os melhores cumprimentos,

Lidia Semedo (Presidente da CPCJ Silves)

Iris Guerreiro (Tec. CPCJ Silves)

CPCJ Silves

sexta-feira, março 28, 2008

Medos


Medo de fantasmas, de bruxas, do escuro. São esses, entre outros medos e pavores, que surgem na imaginação das crianças e que fazem com que suas noites se tornem um pesadelo. Mas tais medos são normais na fase infantil, pois a criança possui uma imaginação muito forte que faz com que tudo que aprenda ou descubra torne-se real.
Os primeiros sinais de sustos e medos começam por volta dos 7 ou 8 meses, quando os bebês costumam estranhar ambientes e pessoas com as quais não estão acostumados. Já com 2 anos é comum a criança ter medo de ser abandonada pelos pais.
Mas é a partir dos 3 anos de idade, quando sua imaginação está a todo vapor, que aparecem os medos mais intensos e abstratos, como do escuro, de bruxas, fantasmas, monstros e bichos papões. Como resultado do pensamento mágico típico desta idade, todos os tipos de medos tornam-se reais e lógicos na mente da criança.
Freqüentemente os pais ficam confusos e não sabem como lidar com esta situação. Uma boa maneira de auxiliar a criança a vencer seu medo consiste em fazê-la participar da procura de métodos práticos de lidar com a experiência assustadora.
Às vezes, o simples fato de manter acesa uma luz fraca no quarto durante a noite é suficiente para assegurá-la de que não há monstros espreitando no escuro. Outra forma consiste em mostrar o objeto que traz medo à criança numa situação em que ela sinta-se segura. Este tipo de exposição a um modelo, ou seja, a demonstração de que outros não têm medo, pode ser um método efetivo.
A cumplicidade também é um método eficaz: os pais podem ajudar seus filhotes contando que também tinham medos quando eram pequenos. E até mesmo reconhecer que ainda hoje tem alguns medos.
O medo faz parte da vida da criança, embora ela ainda não tenha condições emocionais para enfrentá-lo. Por esta razão, todos os medos de seu filho, alguns absurdos, outros nem tanto, merecem o maior respeito. De nada adianta o adulto fingir que não notou. E nem insistir em dizer que não tem bicho nenhum atrás da cortina ou que fantasmas não existem.
Conversar com a criança sobre o assunto, levá-la a revelar - no meio de uma historinha, por exemplo - o que a deixa assustada, isto sim, pode ajudar bastante. O simples fato de poder compartilhar com alguém querido qualquer experiência vivida traz alívio aos pequeninos. Deixe a criança falar, dividir o peso de suas angústias. Afinal, até os bebês, algumas vezes, se sentem amedrontados, tensos ou angustiados.

Rafaela Rosas

quarta-feira, março 26, 2008

Viciados na chupeta


Alguns bebés começam a chuchar ainda dentro do útero. Não admira por isso que, mais tarde, a chupeta possa tornar-se um objecto indispensável.


Chuchar é um reflexo instintivo. É a forma que os bebés têm de gerir o seu próprio stress. Alguns preferem o dedo, outros a chupeta. Outros nem uma coisa, nem outra. Chuchar não significa, necessariamente, falta de tranquilidade. Muitos bebés que chucham são calmos, "pacíficos", bem adaptados ao ambiente, sem qualquer sintoma de stress mal gerido. No entanto, por ser uma actividade repetida e rítmica, o chuchar desempenha uma função relaxante. As chupetas vieram substituir o dedo. Estimulam o reflexo de sucção e tornam-se um complemento do acto de mamar. Podem funcionar, por isso, como um estímulo afectivo, fazendo com que o bebé se sinta mais seguro e tranquilo. Daí que, em momentos de maior agitação, a chupeta seja, de facto, uma boa aliada dos pais na tentativa de acalmar o bebé.
Mas... Algumas crianças - a maioria, provavelmente - são imediatamente confrontadas com a chupeta, mal acabam de sair da sala de partos. Ainda que muito comum, esta situação pode trazer algumas consequências negativas. Quando um bebé está a adaptar-se ao mamilo da mãe - tarefa que pode demorar uns dias até ser plenamente entendida por ele -, a introdução da chupeta poderá dificultar essa aprendizagem, uma vez que para mamar na chupeta o bebé não precisa de abrir tanto a boca e, se utilizar a mesma técnica com o peito da mãe, vai extrair pouco leite. Ou seja, vai ficar com fome e causar stress na mãe, tudo factores que propiciam a diminuição da saída de leite e o aparecimento de dores e gretas no mamilo da mãe. Por outro lado, o cheiro e a textura da borracha ou silicone podem constituir uma fonte de "baralhação" para a criança, na altura de pegar no peito e dificultar a amamentação. Vários especialistas defendem, então, que o melhor para o bebé é não ser confrontado com a chupeta, pelo menos nos primeiros dias de vida, de modo a que não haja interferências na adaptação à mama da mãe.
Problemas dentários? A chupeta pode trazer alguns problemas no que toca ao desenvolvimento dos maxilares e dentes. Segundo os especialistas em medicina dentária, o uso exagerado da chupeta pode relaxar os músculos labiais, sobrecarregando os músculos das bochechas. Uma situação que pode fazer com que as arcadas dentárias se desenvolvam de forma anormal, em sentido anterior, ou seja, para fora. Isto não é, obviamente, regra para todas as crianças. Muitas utilizam a chupeta durante vários anos e nunca chegam a apresentar problemas deste tipo. O ideal, para que este tipo de situação não se torne irreversível ou difícil de "tratar", é que a criança abandone a chupeta até aos três anos de idade.
Deixar a chupeta Este pode ser um processo difícil, mas se a iniciativa for da criança, sem pressões ou ameaças dos pais, será, seguramente, mais fácil. Ofereça estímulos positivos (por exemplo: "Já estás a ficar crescido. Um dia destes nem precisas da chupeta"), em vez de ameaças, chantagens ou tentativas de "comprar" a vontade da criança.
Chupeta não substitui atenção Quando um bebé é "viciado" na chupeta, esta corre o risco de deixar, com o tempo, de ser um simples objecto calmante. Passa a ser um objecto de consolo. É talvez aí que reside o seu verdadeiro perigo: muitas vezes, a chupeta é vista pelo adulto como a única resposta para o choro da criança. É uma solução rápida, instintiva, que os pais, muitas vezes, apresentam ao filho, sem averiguarem as causas do choro e sem tentarem consolar o bebé com palavras e conforto. Ora, a chupeta não substitui o afecto e a atenção de que o bebé precisa. Não pode ser a solução indistinta para o choro. Se um bebé chora porque lhe falta alguma coisa, porque tem necessidade de afecto, de comida ou outra, é errado resolver sempre o problema oferecendo a chupeta. Só servirá para fazer dele uma pessoa frustrada e derrotista.

Pais e filhos