terça-feira, dezembro 04, 2007

O amor passa gerações

Clube de Contadores de Histórias
Projecto: Abrir as portas ao sonho e à reflexão
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O cestinho de romãs

inspirado numa história
tradicional portuguesa


Não havia ninguém que gostasse tanto de romãs como a avó Adelina! Gostava de as olhar, de as pôr bem no centro da mesa a enfeitar o dia, e também de as comer, de se deliciar com os seus grãozinhos doces.

Por isso, a sua amiga Miquelina lhe ofereceu, por altura do Dia de Reis, um cestinho de romãs.
A avó Adelina agradeceu-lhe muito, de olhinhos a brilhar, mas depois pensou:
"Vou dar este cestinho de romãs à minha filha Maria!"

Pegou numa folha de papel branco e fez um lindo guardanapo recortado, com o qual forrou o cestinho. Depois, foi a casa da filha. Viu que ela não estava em casa e resolveu deixar-lhe o cestinho em cima da mesa da sala de jantar. Como ela ia ficar contente! Em cima do guardanapo de papel recortado, as romãs ainda pareciam mais rainhas.

Quando a filha chegou a casa e viu as romãs, ficou admirada e logo teve uma ideia:
"Vou dar este cestinho de romãs à minha filha Aninhas!"

E se bem o pensou, melhor o fez. Levou o cestinho para casa da sua filha Aninhas, que tinha acabado de casar e ainda andava a arrumar os tarecos. Como ela ia ficar contente!

Como a filha tinha saído para comprar pão, deixou-lhe o cestinho de romãs em cima de um aparador e foi-se embora em bicos de pés, a sorrir da surpresa que lhe tinha feito.

Quando a Aninhas chegou a casa, ficou admirada e logo teve uma ideia:
"Vou dar este cestinho de romãs à minha avó Adelina!"

Ela sabia muito bem que o melhor presente que a sua avó poderia receber era, sem sombra de dúvida, um cestinho de romãs. Por isso, entrou muito sorrateira em casa da avó, que por acaso tinha deixado a porta aberta e cantarolava lá ao fundo, no quintal, e com muita cautela pôs o cestinho em cima da mesa. Depois, em bicos de pés, saiu e foi para sua casa, a sorrir da surpresa que a avó ia ter.

E foi mesmo uma surpresa! Quando a avó Adelina viu o cestinho, já seu conhecido, em cima da mesa, a enfeitar o dia e o seu coração, duas lágrimas de ternura escorreram-lhe pelas faces enrugadas. Aquelas eram as mais lindas romãs que havia em todo o mundo.



Maria Alberta Menéres
O livro de Natal
Porto, Porto Editora, 2003
Adaptação
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Caros Colegas,

Nestes tempos tão apressados, em que não há lugar para a reflexão e em que as preocupações materiais se sobrepõem ao prazer das coisas simples, a leitura de pequenas histórias, repassadas de humanidade e de beleza, pode contribuir de uma forma significativa, para um alargar de horizontes que a sociedade tem querido, por força, restringir às superficialidades e canseiras do dia-a-dia.

Da constatação deste facto, nasceu, na Escola Secundária com 3º ciclo do Ensino Básico Daniel Faria – Baltar, o Clube de Contadores de Histórias, com a finalidade de levar às diferentes turmas da referida escola histórias capazes de proporcionarem momentos de diálogo, de reflexão e de sonho, que tão necessários se tornam para a libertação de tensões e para o despertar do gosto pela leitura, da qual andam os jovens de hoje bastante alheados.

O projecto teve a adesão entusiasta de bastantes alunos, quer do Ensino Básico quer do Ensino Secundário, que se dispuseram a partilhar com os colegas a sua experiência de descoberta das pequenas histórias e do seu universo de valores. A tolerância e a generosidade, a delicadeza e a rectidão, o respeito pela Natureza, a capacidade de sonhar, são princípios que é necessário inculcar nos jovens, já que tantos se encontram à deriva numa sociedade que diz defender os direitos destes, mas que, na realidade, apenas pretende explorar as suas fragilidades com o fito do lucro. É confrangedor ver-se tantas crianças e adolescentes influenciados por programas televisivos francamente medíocres, quando se poderia optar por propostas de qualidade, capazes de promover os valores da verdadeira cultura, que é aquela que assenta no respeito por si próprio e no respeito pelos outros.

Cabe à escola tentar contrariar a vertente massificadora de certa comunicação social, incutindo nos alunos o gosto pela leitura e ajudando-os a crescer em sensibilidade. A violência na escola deve-se, em grande parte, a uma educação de natureza materialista, que tem descurado a formação do carácter em proveito de conteúdos muitas vezes estéreis. A pouca adesão dos alunos às matérias leccionadas é um sinal claro de que a escola necessita de mudanças, não no sentido das reformas educativas implementadas, quase sempre geradoras de instabilidade e de desorientação, e muito menos em nome de um economicismo que a nada leva, mas sim no sentido de promover os valores fundamentais do carácter, sem os quais nenhum ser humano poderá crescer em dignidade e em esperança: o espírito de diálogo e de solidariedade, a compaixão pelos que sofrem, a discrição e a simplicidade, em oposição ao exibicionismo tão em voga, a delicadeza e a compostura, a honestidade.

As pequenas histórias que o Clube de Contadores tem procurado divulgar no âmbito da escola, transmitem, de uma maneira simples e acessível às diferentes faixas etárias, esses mesmos valores, que um ensino de carácter demasiado informativo e tecnicista relegou para segundo plano e que uma sociedade baseada no princípio da aparência se tem encarregado de anular.

Na sequência disso, decidiu o referido Clube tornar o seu projecto extensivo não só aos professores da Escola Secundária com 3º Ciclo Daniel Faria – Baltar, mas também aos professores de outras escolas, na convicção de que as histórias partilhadas serão motivo de satisfação e de descoberta para quem as ler e ouvir, passando assim a ser enviadas por e-mail semanalmente. Gostaríamos muito que os professores que as receberem e as apreciarem procedam ao seu reencaminhamento, para que o maior número possível de pessoas venha a beneficiar com a sua leitura.

Gostaríamos também de receber as vossas opiniões sobre este projecto.

Certos do vosso melhor acolhimento



O Clube de Contadores de Histórias
contadoreshistorias@gmail.com
http://www.prof2000.pt/users/historias/

Biblioteca da Escola S/3 Daniel Faria – Baltar