Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidoso intelectual
Vacila ante a interrogação gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação talvez bastem para encantar?
Imprevistas, fartas mesadas, louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas, concedidas sem reticências?
Liberdade alheia a limites, perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites, conforme a lei do esquecimento?
Submeter-se à sua vontade sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há de entontecer um grão-vizir?
E se depois de tanto mimo que o atraia, ele se sente pobre,
sem paz e sem arrimo, alma vazia, amargamente?
Não é feliz. Mas que fazer para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender uma fagulha de confiança?
Eis que acode meu coração e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição: dar a meu filho meu amor.
Pois o amor resgata a pobreza, vence o tédio,
ilumina o dia e instaura em nossa natureza a imperecível alegria.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, junho 05, 2009
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