segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Duas luas

O senhor Túlio foi ao Brasil de avião. Ele que nunca tinha saído lá da sua aldeia, aventurar-se a uma viagem tamanha era de espantar. Mas o senhor Túlio tinha uma filha no Rio de Janeiro, filha essa que lhe dera uma neta, neta essa que ia a baptizar, baptizado esse a que o senhor Túlio nem por nada podia faltar.Na grande cidade do Rio de Janeiro, tudo o espantou: o tamanho dos prédios, a largueza das avenidas, a extensão das praias, a bicheza de gente.— É tudo maior do que na minha terra — dizia ele, constantemente. — Até a Lua daqui é mais grada do que a nossa.A filha indignava-se:— Ó pai, não ande sempre de boca aberta que parece mal e, por favor, não diga que esta Lua é maior do que a lá da aldeia, porque a Lua é só uma.O senhor Túlio engolia e calava-se, mas, à cautela, pôs-se a medir aos palmos, de longe, a Lua Cheia sobre o Pão de Açúcar. “Um palmo bem medido”, memorizou ele.Quando, com muita pena, teve de voltar para Portugal e regressou à aldeia, não se esqueceu do que matutara. Numa noite de Lua bem redonda, estendeu a palma da mão para o céu e mediu:— Um palmo e nem mais um niquito.Ficou-se a pensar e concluiu:— Ai que tu engordaste, magana, enquanto eu andei lá por fora!

António Torradowww.historiadodia.pt

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