Encantarmo-nos connosco próprios não só é normal como desejável. Mas ter fantasias de grandeza e omnipotência revela que, no fundo, há em nós uma grande falta de amor.
Capazes de aguentar e produzir o que quer que seja, de orientar, apoiar e satisfazer toda a gente, os narcisistas orgulham-se da sua força e dureza. Com muita necessidade de serem admirados, controlar tudo e todos e continuamente empenhados em obter gratificações, esforçam-se por ter uma vida respeitável no campo profissional e no sentimental.
Mas, como muitas vezes não têm consciência de um certo vazio que os habita, tudo lhes sabe a pouco. E quase sempre estão insatisfeitos.
Dizem os entendidos que, com frequência, se trata de pessoas interiormente desamparadas e frágeis que, não se tendo sentido amadas durante a infância, sem disso se aperceberem passaram a achar-se não merecedoras de afecto. E, ao caminharem pela vida fora, a nível inconsciente procuram defender-se dessa sensação de frustração relacionando-se com pessoas poderosas, fortes, eficientes, ricas, que de uma forma ou de outra se destacam, são respeitadas e admiradas. Entretanto, esquecem-se de que a única coisa que verdadeiramente lhes falta é amor.
Amor com amor se paga
Mágoas profundas, traições de amor precoces, quem não as teve? Há porem, casos em que, desde criança, esse sofrimento foi de tal maneira controlado que apenas conseguimos valorizar-nos à superfície de nós mesmos. Não ao nível da nossa essência. E, então, não há em nós suficiente disponibilidade para nos relacionarmos com os outros numa base que não seja a do poder. A do pragmatismo -que, por vezes, subtilmente resvala para o oportunismo. Talvez, desde crianças, tenhamos aprendido a chamar a atenção dos outros e a conseguir afecto através de atributos como, por exemplo, a inteligência ou a beleza. E, usando-os para conseguir que os outros nos admirem, fomo-nos habituando a encará-los como a única defesa contra a dolorosa sensação de não ser mos amados. Poderemos, nesses tempos longínquos, ter ocupado uma posição marcante na família, por exemplo sendo o filho mais bem dotado, do qual se espera que realize as aspirações familiares e a quem teria sido atribuído precisamente esse papel. Natural é, por isso, que tenhamos sido excessivamente estimulados nesse senti do sem que, ao mesmo tempo, tenha havido alguém próximo disponível para nos acarinhar ou apoiar. Aprendemos, assim, naturalmente a controlar as emoções e a investir as nossas energias numa imagem pública idealizada, com a qual nos identificamos e que nos vai levando a endeusar tudo o que represente poder
Investir na imagem
Envolvidos num manto de superioridade mas com as suas fragilidades anestesiadas, os narcisistas aparecem aos outros como se nada temessem.
Vivem, no entanto, dependentes de uma fachada. E, de olhos fechados para a realidade do que são, vão caindo num saco sem fundo, para onde arrastam os muitos outros que facilmente atraem. Cheios de charme, sedutores, agradáveis, simpáticos e inteligentes, hábeis na aproximação física e no relacionamento sexual, é fácil aparecerem-nos como capazes de corresponder aos nossos sonhos - sobretudo se tivermos sonhos de grandeza. Capazes de nos dar a ilusão de um amor que, no entanto, não passa de utopia.
E, nos momentos em que estão no ponto mais alto do seu impulso, parecem, de facto, vibrar. Acontece porém que, ao olharem para nós, não é como pessoas reais que nos vêem, mas sim como imagens -que admiram ou não. Objectos capazes de dar -ou não -corpo a um sonho. No fundo, só estão interessados pelo que lhes falta. Preocupam-se tanto consigo mesmos que não se apercebem das necessidades dos outros.
Envolvidos num manto de superioridade mas com as suas fragilidades anestesiadas, os narcisistas aparecem aos outros como se nada temessem.
Vivem, no entanto, dependentes de uma fachada. E, de olhos fechados para a realidade do que são, vão caindo num saco sem fundo, para onde arrastam os muitos outros que facilmente atraem. Cheios de charme, sedutores, agradáveis, simpáticos e inteligentes, hábeis na aproximação física e no relacionamento sexual, é fácil aparecerem-nos como capazes de corresponder aos nossos sonhos - sobretudo se tivermos sonhos de grandeza. Capazes de nos dar a ilusão de um amor que, no entanto, não passa de utopia.
E, nos momentos em que estão no ponto mais alto do seu impulso, parecem, de facto, vibrar. Acontece porém que, ao olharem para nós, não é como pessoas reais que nos vêem, mas sim como imagens -que admiram ou não. Objectos capazes de dar -ou não -corpo a um sonho. No fundo, só estão interessados pelo que lhes falta. Preocupam-se tanto consigo mesmos que não se apercebem das necessidades dos outros.
Do Sonho à Realidade
Os Narcisistas não amam. Manipulam. Nada de real dão, por isso, àqueles com quem se relacionam. Podem, sim – e, sem dúvida, não são poucos – levá-los a que se encontrem com o vazio que em si mesmos também existe. Muitos são os que mantêm casamentos que, embora sendo apenas de fachada, conseguem resistir à erosão do tempo. Só que no dia em que o império se desmorona, àquilo que foi vivido com paixão segue-se o desapontamento. O desfazer de algo que, passado o seu tempo de glória, até parece que nunca existiu.
Pródigos também em casos sentimentais rápidos – com pessoas atraentes e bem dotadas, mas de quem mantêm sempre uma certa distância -, os narcisistas têm dificuldade em aguentar uma relação baseada em trocas afectivas reais.
Os Narcisistas não amam. Manipulam. Nada de real dão, por isso, àqueles com quem se relacionam. Podem, sim – e, sem dúvida, não são poucos – levá-los a que se encontrem com o vazio que em si mesmos também existe. Muitos são os que mantêm casamentos que, embora sendo apenas de fachada, conseguem resistir à erosão do tempo. Só que no dia em que o império se desmorona, àquilo que foi vivido com paixão segue-se o desapontamento. O desfazer de algo que, passado o seu tempo de glória, até parece que nunca existiu.
Pródigos também em casos sentimentais rápidos – com pessoas atraentes e bem dotadas, mas de quem mantêm sempre uma certa distância -, os narcisistas têm dificuldade em aguentar uma relação baseada em trocas afectivas reais.
Por Maria José Costa Félix em Revista Xis de 22 de Outubro de 2005
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